A presença negra no
Ceará é marcada e marcante”, resumiu a professora doutora Sílvia Maria Vieira
dos Santos. Não obstante a historiografia oficial ainda teime em negar a
existência de negros escravizados em território cearense no período colonial –
o que influencia diretamente no reconhecimento das raízes afrodescendentes e no
sentimento de pertencimento de boa parte dessa população – a militância
organizada e a maior participação de pessoas pretas no ensino superior
proporcionam, atualmente, novos estudos sobre a presença negra no Estado.
A existência de negros
no Ceará e a história dos movimentos negros estaduais foram problematizadas no
segundo encontro do Curso Dandara dos Palmares – Gênero, Raça e Etnia na
Comunicação, realizado no dia 3 de outubro, no auditório do Sindicato dos
Jornalistas do Ceará (Sindjorce).
A
atividade também teve a participação do escritor Hilário Ferreira, cuja obra
“Catirina, minha nêga, tão querendo te vendê…: escravidão, tráfico e negócios
no Ceará do século XIX (1850-1881)”, foi a principal fonte bibliográfica
utilizada na exposição de Sílvia Maria, que é coordenadora pedagógica do Curso
Dandara dos Palmares. “Da mesma forma que escamoteia a presença de negras e
negros no Ceará, a historiografia vai dizer que não existiam indígenas também”,
reforçou a professora.
Ser
negra e negro é uma construção política que passa pelo sentimento de
pertencimento a um grupo racial ou étnico, decorrente de construção social,
cultural e política. Partindo dessa premissa, Sílvia Maria colocou que muitas
pessoas não se identificam imediatamente como negras porque “negro é tudo de
ruim que está no dicionário”. Por outro lado, ao se autodeclararem pardas, elas
também não se reconhecem como brancas. “O pardo é o não lugar”, frisou.
Acrescentou que a pessoa se reconhece como negra e a comunidade também a
reconhece como tal.
A população declarada
negra aumentou no Ceará, entre 2012 e 2018, de acordo com a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios Contínua 2018, publicada nesta quarta-feira (22) pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice passou de 2,9%
para 5,3%, no período analisado, mas, ainda assim, é o menor dos estados do
Nordeste.
Na região, a maior participação de negros ocorre na Bahia (22,9%) e no Maranhão (11,9%). O índice de 5,3% no Ceará representa uma população de quase 480 mil pessoas, segundo o Instituto. A maior população no estado é de pardos, que engloba 65,7% dos habitantes - cerca de 5,9 milhões de cearenses.
Matéria: Professor Helio Amazonas
@grupolentedigital
https://www.youtube.com/watch?v=tAf4_dkMtqU
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