Bem, amigos! Eu devo confessar que neste momento de quarentena, bate aquela melancolia, a vontade de ir para a rua e ver gente circulando, transitando, indo, voltando, chegando e sentando no banco daquela praça, naquela calçada onde as senhoras em finais de tarde põem as suas cadeiras, puxam aquela fofoca gostosa e numa dessas, aquelas gargalhadas gasguitas e estridentes delas ressonando num só coro, a risada prolongada da Dona Maria que cata piolhos na cabeça recostada do seu neto em seu colo, Dona Neide que dá de mamar ao filho Valdisnei (nome em homenagem ao Walt Disney), escanchado com a boca no seio desnudo, abarrotado de leite que dá para alimentar dez recém nascidos. Aí, vem o aroma do cafezinho no final da tarde que Dona Chica acabara de coar e pôr na garrafa térmica de cor vermelha Aladim. Dona Elisete se encarregara de cozinhar o bolo que o vento traz o olor de lá da cozinha. Enquanto isso, o seu Zé Vicente chega da padaria com os pãezinhos quentinhos, feitos na hora.
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Poeta: Paulo Renato. |
No outro lado da rua, seu Antônio fuma aquele cigarro pé duro, seu Valdir dá umas tragadas num 'huliúdi' e seu Pedro bafora num cachimbo, debatendo os assuntos do momento. A molecada no meio do tempo brincando de viver. Joãozinho chuta a bola que bate na Sara que chora e reclama para sua mãe, Dona Graça, que vai no meio da roda e chama a atenção dos meninos que dão uma sonora vaia nela, ela esquece a pinimba e se mostra feliz porque ali era o momento de graça. Ah! Dona Graça. O Andrezinho que ama Sara, vai acudi-la e ela que ama Joãozinho, perdoa-o, dizendo que pancada de amor não dói. Seguindo o périplo, Dona Zefa debulha o terço na novena das seis e Dona Santa destrincha o rosário que o vigário Batista havia lhe presenteado na missa da quarta-feira de cinzas depois do Carnaval "a carne é algo mortal..." (Raul Seixas)
Ah! Tanta coisa para dizer e eu recolhido, escrevo poemas, componho canções, revejo meus manuscritos de há tempos outrora. Penso que sou Drummond de Andrade, Neruda, Mário Quintana, Patativa do Assaré ou Rachel de Queirós. Mas eu sou eu mesmo e, por mim mesmo, escrevo cartas, refaço meus versos, planejo um livro exclusivamente para ela que não sai do meu pensamento. "Quem é ela? Quem é ela? Vejo tudo enquadrado." (Adriana Calcanhotto) e recorro ao meu violão para ensaiar esta canção ou tocar FUSCÃO PRETO, lembrando de um amigo, acolá, que gosta deste hit antigo, porém, atual. Canto para ela escutar o meu brado como se não me bastasse uma Lua com o halo feito um elo que nos une à distância.
Então, volto para a rua das minhas lembranças, elas nas calçadas, meninos fazendo estripulias, senhores falando de futebol, jogando o xadrez ou o velho carteado, enquanto se dilui nas fumaças que eles baforaram as suas últimas horas do dia. Seis da tarde, a Hora do Ângelus! Isso tudo me deixa nostálgico. Lembro de minha Santa Mãe rezando e entoando com a sua voz em falsete "Eu confio em Nosso Senhor, com fé, esperança e amor!" Tudo isso, sobretudo, acalma a minha alma e ACALENTA O MEU CORAÇÃO.
Paulo Renato.
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